terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Conto da vida real.

"Pára o carro!" - Gritei
Eu não queria permanecer nem mais um segundo naquele veículo.
Desci sem olhar pra trás e fui caminhando até a tabacaria mais próxima.
"Um maço de ... e o isqueiro mais barato, por favor." - Falei com uma voz serena como se a raiva não estivesse me corroendo.
Eu não fumava há semanas, havia decidido parar de fumar e não estava me fazendo falta.
Saí da loja já abrindo a embalagem do maldito, coloquei o cigarro na boca, o acendi, pensei que ele faria descer o choro que estava preso em minha garganta.
Não senti a sensação de alívio quando eu sentia ao fumar nervosa. Na verdade, não senti nada além de uma fumaça entrando e saindo do meu organismo e o cheiro desagradável, quase que insuportável, mesmo para minhas narinas, que sempre estavam entupidas pela minha eterna rinite alérgica.
Pensei que caminhar poderia me tranquilizar, decidi ir andando até em casa. Estava escuro, já passava das oito da noite, em plena segunda-feira, ruas quase vazias, pessoas com olhares suspeitos me olhavam. Sensação de que eu poderia ser assaltada a qualquer momento.
Resolvi acender outro cigarro, mas dessa vez coloquei várias balinhas de hortelã na boca para tentar disfarçar o quão horrível é o gosto desse veneno. A cada tragada era uma balinha a mais que eu enfiava goela abaixo.
Cheguei no portão de casa depois de uma hora de caminhada, as duas poodles brancas, que sempre me receberam com alegria na chegada, não fizeram diferente, mas eu fiz, as ignorei. Subi as escadas, a luz da lavanderia estava acesa. Entrei pela sala, ele estava no final do corredor, na copa, ao meu olhar, eu o ignorei. Aprendi com maestria a arte de ignorar.
Tomei um banho, água fria. Fazia muito calor e eu precisava desse choque térmico. Fiquei recebendo aquela água fria na cabeça sem me mover por algum tempo.
Voltei ao meu quarto, esperei todos dormirem, fui até a cozinha para comer algo: arroz e feijão, nada mais que isso.
Deitei na cama, liguei o ar condicionado ligado, o calor era extremo...talvez fosse somente o calor dos meus sentimentos. Rodei na cama por horas.
Um despertador alheio tocou, já passava das 4 horas da manhã.
Dormi.


Blessed Be