sábado, 15 de novembro de 2014

Rivotril

Tudo começou em 2003.
Eu comecei a vomitar do nada, até a água que eu bebia, passava as madrugadas acordadas e dormia 2 horas por dia. Literalmente por dia, normalmente era das 6 da manhã às 8.
Logo depois os tremores começaram, eu tremia dos pés a cabeça como se estivesse com frio, mas estava suando (suando frio, mas suando).
Não conseguia ficar parada, sentada ou deitada, mas também não tinha força o suficiente para ficar andando pela casa. Meu irmão pegava meu braço, colocava no pescoço dele e ficava andando comigo, falando besteira, fazendo palhaçadas tentando tirar pelo menos um meio sorriso da minha boca trêmula de tanto chorar.
Coração disparado, choro incontrolável, não conseguia colocar os pés para fora do portão de casa e eu não fazia a menor ideia do que era.
Meus finais de semana passaram a ser no hospital.
"É gastrite." - um médico dizia
"Você está grávida." - outro médico disse
Fiz exame de sangue: negativo
Fiz endoscopia: e o médico disse que eu tinha uma gastrite mínima e que não poderia ser o motivo dos meus vômitos, nem de longe.

Enfim, resolvi de comum acordo com minha mãe que o melhor era eu ir no médico da família (médico dela há mais de 20 anos, fez até o parto do meu irmão, que hoje tem 19 anos).
Ele pediu todos os exames, mas já afirmando que sabia o que eu tinha, só queria saber como estava minha saúde, pelo motivo de:
Eu tenho 1,63 cm, meu peso "normal" era de 41 kg e eu tinha emagrecido no mínimo 5 kg. Sempre fui magra, mas eu estava visivelmente abatida.
Pois bem, fiz todos os exames, esperei os resultados, fui até o Dr. Lenilson e antes dele abrir qualquer envelope de exame, ele me disse:
"O que você tem é depressão, mas vamos ver como está tua saúde, para depois falarmos disso."
Apesar de eu sempre ser magra, meus exames sempre deram normais e mesmo tendo emagrecido mais ainda, meus exames ainda estavam dando como normais.
Eu fiquei muito confusa quando ele disse ser depressão, eu sabia que eu tinha uma tristeza mais profunda do que o normal desde os meus 16 anos, mas por que todo esse mal estar?
Ele me explicou:
"Você, ou seja, seu cérebro, não aceita o fato de você estar com problemas emocionais, talvez por você saber que tua mãe também tem, talvez por você não aceitar o fato de você ser sensível e frágil emocionalmente,...enfim, o cérebro não aceitando ele manda sinais aos órgãos do teu corpo, isso se chama sintomas psicossomáticos. O cérebro não aceita, o corpo avisa."
Me mandou tomar remédios controlados: antidepressivo e ansiolítico.
Eu me recusei, não queria ser uma viciada!!!
Fui em um médico homeopático, levei todos os meus exames, disse tudo que me havia sido dito e ele me passou remédios naturais.
No começo parecia que estava dando resultado, voltei pra faculdade (que eu havia trancado) e eu acreditei que eu estava indo bem, até que em menos de 1 ano, começou tudo de novo.
Meus pais me levaram na emergência e a médica foi bem clara com as palavras:
"É você que decide, quer continuar tentando os remédios homeopáticos? Ok. Mas se você não tiver uma melhora imediata, você não vai durar mais 1 mês. Você está desencadeando uma bulimia e pelo seu biotipo, você não tem tempo pra ficar pensando em se viciar ou não."
Me passou uma receita azul, era o tal, desconhecido por mim até então, Rivotril (ansiolítico).
Aquelas palavras me chocaram, eu não consegui mais pensar em nada além de "1 mês".
Meu pai comprou o remédio, tomei no início da noite e parecia nada do que eu tinha passado até o momento era realidade.
Óbvio que em seguida fui em um psiquiatra, contei mais uma vez, tudo o que tinha acontecido nos últimos meses, quase 1 ano. Ele me passou um outro ansiolítico para tomar de dia (Frontal) e mandou eu continuar com o Rivotril a noite.
Tentei diversas vezes tomar vários tipos de antidepressivos, mas as reações me enlouqueciam, parecia que além de cortar o efeito do ansiolítico, potencializava minha ansiedade e meu desespero. Desisti de tentar antidepressivos e por isso, até hoje, tenho minhas recaídas.
Já o Rivotril...comecei com 0,5 mg e hoje tomo 2,0 mg. 10 anos, 10 anos de vício num maldito remédio que, quando tento ficar sem, as pessoas mais próximas dizem que meus olhos ficam arregalados e eu não paro de falar emendando um assunto nada a ver no outro. Eu só percebo quando eu começo a me sentir mal de novo. A maldita taquicardia é o primeiro sintoma.
As pessoas acham que é fácil, largar um remédio desse, assim do nada ou que eu acho legal tomar.
Tento levar na esportiva, posto foto, faço piadas,...mas só eu sei o quanto eu já chorei por ter a consciência de que eu sou uma dependente química.


Blessed Be